quinta-feira, 18 de setembro de 2008

NAVEGAR É PRECISO...


Em junho deste ano, naveguei literalmente por Portugal, trazendo na mala muitas saudades dos encantadores lugares e pessoas queridas que conheci...

Adorei passear pelo norte de Portugal, em especial pelas cidades do Porto, Viana do Castelo, Ponte de Lima, Ovar e Aveiro, esta pela beleza singular de ser a "Veneza" portuguesa - atravessar seus canais de gôndola, num maravilhoso dia ensolarado e uma brisa reinante, foi uma experiência gratificante...

É muito gostoso atravessar cidades e rios em comboios (trens) confortáveis, andar em eléctricos (bondes), caminhar pelas ruelas do Baixo-Chiado e da Alfama, bairros tradicionais de Lisboa, num sobe-e-desce ladeira, numa paisagem de sacadas, roupas penduradas, casas ornamentadas por azulejos azuis, com desenhos delicadamente emoldurados...

Conheci um pouco da nossa história através dos museus, mosteiros e igrejas que visitei (lá encontrei nosso ouro, dantes "alienado"..). Penso que todo brasileiro, ao desejar conhecer a Europa, deveria inicialmente passar por Lisboa e seus arredores, para conhecer um pouco (ou muito?) da nossa história, os bastidores da família real, nossos antepassados e uma boa parte da origem de nossa cultura...
Adorei conhecer o Mosteiro dos Jerônimos, a Torre de Belém, o Castelo de São Jorge, a casa (hoje museu) onde viveu seus últimos anos Fernando Pessoa (onde tive o privilégio de visitar a exposição por seus 120 anos de vida, conhecer de perto sua biblioteca pessoal, seus famosos óculos e rabiscos de poemas imortais), o Oceanário, entre outros pontos turísticos de Lisboa, sem falar nos saborosos vinhos e doces da terrinha - aqueles pastéis de Belém e as degustativas cavacas... quanta diferença!!!! Xô dieta!!!

Passear às margens dos rios Tejo (Lisboa), Douro (Porto) e Lima (Viana do Castelo) é um colírio para os olhos... Nada como tomar vinho do Porto na cave do Ramos PInto, em frente ao rio Douro e aos barcos e iates ali acostados... Hoje melhor entendo os versos de poemas de Pessoa e trechos de livros de Saramago...

Conheci a Basílica de Fátima, Valinhos, as casas dos pastores, Santiago de Compostela e outros recantos especiais, cujas boas energias relaxam a alma...

De tudo isso, os momentos mais especiais por que passei foram pisar a terra onde meus pais viveram e nasceram, estar em sua casinha, hoje em ruínas, ver de perto as videiras, oliveiras, plantações de eucalipto tantas vezes narradas pela minha saudosa mãe (as famosas "toujeiras"); conhecer primos e tios distantes, saborear o vinho verde produzido em suas caves artesanais, aquele banquete de bolinhos de bacalhau especialmente preparado para a ocasião, aprender um pouco de sua cultura, linguagem e simplicidade, situações que nos fazem dar mais valor a vida; conhecer a Tia Amália, única irmã de minha doce mãe, em seu aniversário de 88 anos, e descobrir nela uma pessoa encantadora, alegre, divertida, apesar da idade, da vida sofrida, de pouco escutar e entender nossa linguagem, e de viver solitária, mas coletivamente num asilo que nos passou a impressão de ser muito bem estruturado, apesar de ser do governo...

Não faltou o fado tampouco ouvir os ranchos folclóricos do norte de Portugal para completar o passeio...

Como diria Fernando Pessoa, ou melhor Álvaro de Campos:

"Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos".

Navegar é preciso, viver não é preciso...